Tá certo que lidar com a Moda é um destino traiçoeiro e infeliz, repleto de desejos, sonhos e criações que, à primeira vista, podem parecer supérfluos. Criar É supérfluo. Afinal o novo é sempre um extra, um deslumbramento para os poucos que tem acesso a ele. O que, de certa forma, corresponde praticamente ao conceito teórico de luxo: o inacessível.
O que os pobres mortais não vêem é que, de uma forma ou de outra, o deslumbramento, depois de novidade, vai tomando corpo e descendo as camadas hierárquicas, atingindo a massa através de idéias que, homogeneizadas, criam história. Ciclo um tanto redundante, a partir do ponto em que somos a base modeladora das inspirações. Nós e nossos desejos. Nós e nossas histórias.
Isso é o que faz a nós, fashionistas, suspirar, enquanto assiste Miranda Priestly - a toda poderosa editora de O Diabo Veste Prada - destilar todo o processo comercial que transforma as tendências de grifes em nossa roupa do dia-a-dia.
Os que não conhecem, ou preferem superficializar o processo, podem ver como meu pai e resumir tudo em uma palavra: frescura. Mas, irônicamente, serão vítimas dessa mesma "frescura" quando tiverem na arara de uma loja procurando um look "básico" para o dia-a-dia, enquanto recitam o famoso mantra:
"Eu não me preocupo com a moda". Mesmo aquelas, que em algum canto do Brasil, costuram seus pobres vestidos de chita para cobrir-lhe a pele. Ou as tribos que se valem de seus adereços para manter a identidade. Ou aqueles, mais liberais, que apreciam o nu. Tudo é Moda.
Por isso é tão genial ler uma boa crítica de moda. Quando se vê as fantasias de um desfile esmiuçadas por alguém que sabe das coisas. Trabalho que exige inteligência, mas principalmente sensibilidade. Um olhar atento e uma língua afiada para salpicar aqui e ali as origens da criação, a história que lhe inspirou e aquilo que está por vir. Um certo poder para transformar em corriqueiro aquilo que achamos ser invenção. Para caminhar, elegantemente, acima de criações e criadores, compradores e criaturas...
Hoje a chefa me encaminhou uns textos de uma colunista do site da Daslu:
Gisela Rodenburg. Ela com seus textos simples e olhar consciente que transforma em palavras aquilo que a gente talvez sente, mas não vê. Simplesmente um gênio. Você acha besteira? Cuidado, duvido que possa fazer igual.