quarta-feira, 24 de setembro de 2008

White Pages

Certa vez, meados da adolescência, eu me envolvi fortemente no Movimento Espírita. Eram grupos de mocidades que se reuniam regionalmente na organização de um evento anual onde todos nos encontrávamos numa espécie de "retiro" promovendo atividades, festas, etc. Aquilo era um oásis perto da descoberta que tinha acabado de fazer: grupos, fases, momentos vem e vão em nossas vidas, e não há o que possa ser feito. É a tendência natural das coisas e das pessoas continuar e seguir em frente, buscando novos rumos a cada momento. Eu estava ali buscando o meu rumo, buscando o meu caminho sem saber o que viria pela frente. E foi incrível. Aquilo tinha significado, tinha sentido pra mim. E por um momento cheguei a pensar mesmo que não fosse acabar nunca. Que fosse se reinventar de alguma forma e continuar sendo e preenchendo da mesma forma. Até que chegou um momento em que a coisa revirou de ponta cabeça e lá veio a vida me levando pra novo rumo. Um rumo complicado no momento, mas que se transformou um pouco naquilo que minha vida é hoje. Foi quando veio nova turma, novo momento, novos interesses, novo ciclo... o que, da mesma forma, me preencheu por um certo tempo. Até que, mais maduro, me despedi da mesma forma para ser aquilo que sou hoje. Um homem adulto (meio criança às vezes), responsável por seu destino, cujo maior objetivo é continuar seguindo para algo que nunca se mostra muito nítido. Talvez essa "brisa nova" anuncie mesmo um novo sentido, um novo passo nessa busca contínua e incessante que é a vida. Uma despedida do hoje e uma partida para o amanhã. Esse amanhã novo e radiante que não se anuncia, somente se transforma dentro da gente de uma forma involuntária, impetuosa. Sem pedir permissão.

Nos últimos tempos tenho tratado de quebrar minhas amarras, minhas ilusões. De uma forma meio inconsciente estou me livrando daquelas expectativas bobas que a gente cria no caminho para continuar existindo. Matei meus príncipes, matei meus sonhos, matei tudo aquilo que vive no campo das possibilidades para viver apenas do presente, do real. Zerei. Realmente não faz parte da minha personalidade acreditar em devaneios tolos. "A vida é você quem faz", bem dizem. Daí que, às vezes, rola um certo vazio. Uma incerteza discreta que não é nada além do anseio pelo amanhã. Curiosidade. Para onde essas águas vão me levar quando for a hora? Para o que? O que vai e o que permanece? O que se cria? Às vezes eu me cobro demais tentando unir o certo e o imediato. Tolice. Outras vezes queria ser louco a ponto de pegar uma mala e percorrer campos da Somália. O que sou e o que não sou? O que vou ser? Não sei, nunca se sabe. E talvez seja essa "paz de espírito", o não saber, que transforma tudo em consequência. E lucro. E possibilidade...

Sempre tive medo de páginas em branco. Talvez seja a hora de me apaziguar com elas...

8 comentários:

Serginho Tavares disse...

estou numa fase dificil amigo nem sei o que te dizer...

Serginho Tavares disse...

...mas te adoro e fases passam e deixam coisas boas sempre!

Marion disse...

Demian, não acho legal matar os sonhos. É bom sonhar, ter alguma ilusão. Claro que não podemos viver na ilusão, temos quer ser racionais para saber que a vida não é fácil. Mas sonhar acordado um pouco deixa tudo mais leve. E a vida nos reservas surpresas, a vida consegue ser melhor que filme, pois muitas vezes nos coloca em situações jamais imaginadas e a gente fica sem ação mesmo, pelo susto de estar naquela situação. A vida não tem roteiro, a gente até tenta controlá-la, mas tem horas que a gente perde o controle.

Beijos :)

Bridget Jones disse...

Demian,

Vim dar beijocas e dizer q estou com saudades. Tb vim dizer q vc é um desanturado. Enfim - lavar a roupa suja!

Mas me deparei com um post tão singelo e lindinho q desencorajou-me. Só tenho a dizer q eu tb tenho medo de páginas em branco.

Bjo

Anônimo disse...

Também passei por isso, velho. Fui criado no Espiritismo desde que me lembro. Aí vieram as turmas e outras possibilidades. Andei, quebrei a cara, mas foi válido. Hoje eu voltei. Mas tudo tem um preço nessa vida, até pra voltar.

Abraços.

Enfil

Ale Lima disse...

Eu quero muito seguir alguma doutrina espiritual, acho que faz parte do processo de autoconhecimento , porém está difícil eu me engajar em alguma causa , procurar algum centro. Essa inércia às vezes me incomoda, pois de nada adianta reclamar da vida, da rotina, da falta de perspectivas, se não fazemos nada pra mudar e melhorar...bjs

Ale Lima disse...

Eu quero muito seguir alguma doutrina espiritual, acho que faz parte do processo de autoconhecimento , porém está difícil eu me engajar em alguma causa , procurar algum centro. Essa inércia às vezes me incomoda, pois de nada adianta reclamar da vida, da rotina, da falta de perspectivas, se não fazemos nada pra mudar e melhorar...bjs

FOXX disse...

brisas novas renovam né?
estou precisando disso
apesar de estar em uma cidade nova
o ar já se saturou