Um dia eu conheci o moço. Bem diferente de mim, é fato. Nele não moram as referências que povoam a minha mente. Tampouco os interesses que me guiam vida a fora. Era algo assim, sem continuidade. Até que o moço descobriu meu corpo e me deixou descobrir o dele. Nos povoamos assim, semanas a fio. E as referências todas passaram a morar do lado de fora e assim, interessar bem menos. Pois o beijo dele era doce, e seu corpo tinha veneno. Eu amei esse menino. Naquele curto momento em que a gente se olhou nos olhos, naquele sorriso que ficou guardado lá dentro, naquela expressão de ingenuidade e êxtase enquanto se entregava pra mim. Ali eu queria viver pra sempre. Queria estar inteiro e rígido, navegar em seu corpo em movimentos intrépidos e incessantes. Viver daquele êxtase e beber de sua boca.
Eis que um dia o moço sumiu. Assim, sem explicações, como é de costume nos tempos de hoje. Me deixou o gosto e a lembrança. Os olhares e o toque macio. Naquele fundo da memória que a gente guarda aquilo que deve ficar. Foi assim até o dia em que voltou. Misterioso, intenso, repercutindo aquele desejo que tinha ficado lá dentro. Saiu antes de escurecer, me deixou a língua travada em sua boca, o entardecer estagnado, aguardando ordem para liberar o breu. Foi-se, e prometeu voltar, assim que as coisas se arresolvessem.
Fato é que entre coisas e coisas, há uma distinção profunda e densa. E eu só lamento não saber morar no meio termo.
MODINHA
(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
Não!
Não podes mais meu coração
Viver assim dilacerado
Escravizado a uma ilusão
Que é só desilusão
Ah!
Não seja a vida sempre assim
Como um luar desesperado
A derramar melancolia em mim
Poesia em mim
Vai triste canção,
sai do meu peito
E semeia a emoção
Que chora dentro do meu coração
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
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9 comentários:
[off topic] nao vou n o domingo. estou escalado pra trabalhar! uma pena! queria conhecer o povo LOKO! eh eh eh eh
nossa... eu nao sei o que sentir. ficou na minha mente uma confusao: saudade ou arrempendimento? amor ou desapego?
mas o melhor foram as doces descricoes...
acho que foi saudade...
é... foi saudade!
isso que você escreve meu anjo me lembrou o fábio que aparece e some e me deixa sempre com saudades...
Que delícia de texto. Isso é pura poesia e tá lindo demais! Beijos, lindinho.
Demian, eu não entendo o medo das pessoas de dizer as coisas as claras, assumir o que sentem. Esta "moda" de sumir sem explicações eu acho muito cruel com quem fica, pois este não entende nada, fica perdido e muitas vezes alimentando falsas esperanças.
Quem se envolve pra valer acaba sofrendo...
Beijos
Saí de mim tentando ser o moço, voltei logo que o moço se foi, amei e odiei o moço...
O fato é que esse texto me deixou assim, nostálgico, sentindo saudade de alguma coisa que eu não sei bem o que é.
Obrigado por compartilhar.
Abraços,
Willians.
Que texto fantastico. Como vc consegue com tanta poesia desvendar a alma de todos nós. Me li no seu texto, isso é incrivel.
ENTRA PRO MEU CLUBE, FIO... CLUBE DAS DESQUITADAS (SOU PRESIDENTA HÁ 6 ANOS).
POR ISSO Q NÃO ME RELACIONO... AMAR É UMA M...
Uma pena que vc não quis esperar i tempo desse moço, pois esse tempo é mais curto q vc imagina.
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