quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Modinha

Um dia eu conheci o moço. Bem diferente de mim, é fato. Nele não moram as referências que povoam a minha mente. Tampouco os interesses que me guiam vida a fora. Era algo assim, sem continuidade. Até que o moço descobriu meu corpo e me deixou descobrir o dele. Nos povoamos assim, semanas a fio. E as referências todas passaram a morar do lado de fora e assim, interessar bem menos. Pois o beijo dele era doce, e seu corpo tinha veneno. Eu amei esse menino. Naquele curto momento em que a gente se olhou nos olhos, naquele sorriso que ficou guardado lá dentro, naquela expressão de ingenuidade e êxtase enquanto se entregava pra mim. Ali eu queria viver pra sempre. Queria estar inteiro e rígido, navegar em seu corpo em movimentos intrépidos e incessantes. Viver daquele êxtase e beber de sua boca.

Eis que um dia o moço sumiu. Assim, sem explicações, como é de costume nos tempos de hoje. Me deixou o gosto e a lembrança. Os olhares e o toque macio. Naquele fundo da memória que a gente guarda aquilo que deve ficar. Foi assim até o dia em que voltou. Misterioso, intenso, repercutindo aquele desejo que tinha ficado lá dentro. Saiu antes de escurecer, me deixou a língua travada em sua boca, o entardecer estagnado, aguardando ordem para liberar o breu. Foi-se, e prometeu voltar, assim que as coisas se arresolvessem.

Fato é que entre coisas e coisas, há uma distinção profunda e densa. E eu só lamento não saber morar no meio termo.

MODINHA
(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)

Não!
Não podes mais meu coração
Viver assim dilacerado
Escravizado a uma ilusão
Que é só desilusão

Ah!
Não seja a vida sempre assim
Como um luar desesperado
A derramar melancolia em mim
Poesia em mim

Vai triste canção,
sai do meu peito
E semeia a emoção
Que chora dentro do meu coração

9 comentários:

O Menino que Voa disse...

[off topic] nao vou n o domingo. estou escalado pra trabalhar! uma pena! queria conhecer o povo LOKO! eh eh eh eh

O Menino que Voa disse...

nossa... eu nao sei o que sentir. ficou na minha mente uma confusao: saudade ou arrempendimento? amor ou desapego?

mas o melhor foram as doces descricoes...

acho que foi saudade...

é... foi saudade!

Serginho Tavares disse...

isso que você escreve meu anjo me lembrou o fábio que aparece e some e me deixa sempre com saudades...

Escrevendo na Pele disse...

Que delícia de texto. Isso é pura poesia e tá lindo demais! Beijos, lindinho.

Marion disse...

Demian, eu não entendo o medo das pessoas de dizer as coisas as claras, assumir o que sentem. Esta "moda" de sumir sem explicações eu acho muito cruel com quem fica, pois este não entende nada, fica perdido e muitas vezes alimentando falsas esperanças.

Quem se envolve pra valer acaba sofrendo...

Beijos

Willians disse...

Saí de mim tentando ser o moço, voltei logo que o moço se foi, amei e odiei o moço...
O fato é que esse texto me deixou assim, nostálgico, sentindo saudade de alguma coisa que eu não sei bem o que é.

Obrigado por compartilhar.

Abraços,
Willians.

Unknown disse...

Que texto fantastico. Como vc consegue com tanta poesia desvendar a alma de todos nós. Me li no seu texto, isso é incrivel.

Pavinatto disse...

ENTRA PRO MEU CLUBE, FIO... CLUBE DAS DESQUITADAS (SOU PRESIDENTA HÁ 6 ANOS).

POR ISSO Q NÃO ME RELACIONO... AMAR É UMA M...

Anônimo disse...

Uma pena que vc não quis esperar i tempo desse moço, pois esse tempo é mais curto q vc imagina.