domingo, 6 de julho de 2008

Dora-Viviane

Ela me empurrou sobre o sofá, por um segundo desejei que fosse embora. Seria complicado expulsá-la, mais complicado do que apenas recostar nas almofadas, abrir as pernas enquanto ela sentava no chão. Puxou o zíper dos meus jeans, não parecia se importar com o cheiro de cachorro molhado. Devia conhecer piores, anos de calçada. A gritaria da rua entrava pela janela aberta, junto com a luz mortuária do Happy Days, Elba Ramalho em toca fitas de carro e Jacyr no Quênia's Bar, bebendo cerveja com o rastafari, orgulho da raça nagô, vinte e cinco centímetros. Dora desceu minhas calças até os tornozelos, com os pés descalcei os sapatos. Por cima da cueca, ela passou a mão no meu pau, enfiou-a por dentro do tecido, fechei os olhos, podia ver quem quisesse em seu lugar, eu era louco por Diane Keaton, por Deborah Bloch, sempre as ruivas, afundei mais nas almofadas. Vamos dançar lambada, bichinho, ela disse, e baixou também minha cueca, o sotaque estragava tudo, tentei me concentrar outra vez, a mão molhada de suor avaliava o peso dos testículos, depois apertou a base do meu pau, lambeu a glande como quem prova um sorvete ruivo, um sorvete de maracujá, talvez Patrícia Pillar, não Woolf, ele fremiu de encontro ao céu da sua boca. Ela subiu a mão por baixo da minha camisa, beliscou um dos mamilos, as unhas ciclâmen de Silvinha entre os pêlos de Rafic, filho da puta, gemi, e dora começou a lambê-lo suavemente, da base até a glande, afastando o prepúcio. Cruzei as mãos na nuca para não tocar em seu cabelo tingido, suas pálpebras verdes, Nora Barnacle, tira minhas calças, pedi, e ela tirou, como uma escrava, Lou Andreas Salomé, tira minha cueca, as meias também, Frida Kahlo, e ela tirou. Abri mais as coxas, ela ajoelhada no meio, dava voltas a língua, pequenas pancadas, depois enterrava-o no fundo da garganta, uma das mãos no mamilo, a outra segurando os testículos, mais fundo, pedi, luz apagada, Marilyn Monroe descendo the river of no return. Ele ficava cada vez mais duro, mais empenado, apenas os sons da rua lá longe, gritaria, baixaria, empurrei com força o corpo para a frente, ela recuou assustada, depois entendeu, aceitou o ritmo. Eu empurrava, ela recuava, eu recuava, ela avançava, inteiro na boca, areia movediça, pantanal. Tirava às vezes para respirar, eu pedia não pára, volta aqui, volta já, e ela voltava, fode gostoso a tua cangaceira, ela gemeu. Branco canalha, rainha do frevo, ô Dora, sulista escroto, gaúcho metido, Dadá Corisco, fodendo o agreste. E lá no fundo da garganta, quase gozando e rindo, olhos fechados para ver longe dali, sem que nada no corpo dela, além da boca, tocasse meu corpo além do pau, desta vez deliberadamente, com todos os detalhes, enquanto enchia sua boca de esperma, continuei a lembrar de Pedro.

(Maldito e bendito entre todos os santos e demônios, entre o céu e o inferno, entre o tudo e o nada, que assim seja Caio Fernando de Abreu)

5 comentários:

Serginho Tavares disse...

...que assim seja você que postou isso aqui.

beijos.

Anônimo disse...

CAIO FERNANDO ABREU TINHA ÓTIMO DOMÍNIO DE SUAS IDÉIAS, DA FORMA DE TRANSCREVÊ-LAS PARA O PAPEL. MAS NÃO GOSTO DELE.

Anônimo disse...

Ótimo! Também já tive em situações parecidas. A cabeça (a de cima) muitas vezes fode com tudo...

Abraços.

Enfil

Demian disse...

Enfio, eu imagino! Juro que imagino! hahahahaha

Anônimo disse...

caras como o caio e o dalton trevisan mostram a grande diferença entre escrever sacanagem - ou 'contos eróticos', argh! - e fazer literatura. isso aí que ele escreveu é pura arte. bjs, lindão!