quarta-feira, 4 de março de 2009

Let's talk about LOVE

Isso mesmo, amor, em letras garrafais. É que acabei de assistir um episódio de Queer as Folk, o que sempre me deixa assim, pensativo e filosófico. Em suas devidas proporções, é claro. Mas fato é que primeiro tenho que reconhecer. Eu não falo sobre amor. Pelo menos não sobre esse amor estampado nos romances literários, ou registrado nas telas de cinema. Tenho até medo de falar essa palavra. Medo de quem diz essa palavra. O que em geral acontece no segundo encontro, ou nos 30 minutos. Gente doida. Gente doida. Amor não é assim não. "Love, takes time", já dizia Mariah Carey. Eu até falo "Te amo", mas aquele amor de "miguxo", mais leve e solto... brincalhão. E ainda assim com um medo danado das consequências. Não dá pra levar a sério. Não brinco com coisa séria, fato, o que me torna, às vezes, até insensível, chato. Ligo não. Claro que, como tudo, e longe do olhar alheio, não deixa de ser uma defesa. E o que não é.

Acontece que fui criado numa família meio estranha. Meu pai, atrapalhado pelo seu passado familiar confuso não conseguiu desvencilhar o nó a tempo. E então fui crescendo com a coisa assim, também confusa. Ele não sabia lidar nem mostrar seus sentimentos e eu não tinha maturidade nem força pra lidar com isso. Então fomos ficando, assim, distantes, pela nossa diversidade. Minha mãe, que perdeu os pais muito cedo, acostumou-se a transferir a paternidade perdida. Primeiro com a minha tia e sua irmã mais velha, e depois com meu pai, que a "adotou" numa cerimonia sagrada. Inversão de papéis das mais confusas. Ela cresceu submissa e eu, sem poder lidar com a psicologia alheia preferi me abster. Não sei nada sobre o passado deles, sobre a forma como se conheceram, sobre os dias de paixão. Sei que, com ela, meu pai aprendeu ou quis ter uma família. Certa, a seu modo. Como se assim pudesse corrigir as complicações do passado. E ela, por outro lado, preferiu acreditar e confiar no destino e deixar que o tempo cumprisse sua função. Hoje, ainda, eles vivem juntos. E do lado de lá mantém o rótulo de família. Eu, cá, prefiro ficar na minha. Pois há tempos que me desacostumei com a hipocrisia. Não que eles não sejam felizes. Tampouco quero dizer que estejam errados. Eles fizeram o que puderam. E às vezes, segurança é felicidade. E basta. Só não para mim que tenho dúvidas se ainda entenderei o significado do termo "satisfeito".

Fato é que nesse emaranhado de coisas o amor pra mim passou a ser algo muito mais sólido e milimétrico. Passou a ser o relógio despertando pela manhã. A dúvida sobre o que teremos para jantar. Passou a ser o pagamento de contas e a decisão dos programas no finde. O resto? Palavras bobas e comerciais criadas para alavancar as vendas. "Bullshit!"

Um dia, aliás por anos, eu acreditei em príncipe encantado. Esperava encontrar alguém que completasse, que satisfizesse, preenchesse... e então viveríamos para sempre em nosso castelo sagrado. Ele não veio... não chegou... e então me vali de algumas sessões de análise para acabar de matá-lo! Já não me bastassem os problemas com a família, o preconceito da opção, as dificuldades de aceitação, o abismo entre a realidade e o sonho... ainda teria que manter unzinho aí que nem mesmo existe e já me traz problemas? Não, chega. Sai pra lá Alladin. "All by myself" é meu grito.

No episódio a lésbica descobriu que sua avó manteve um amor lésbico também. Através das cartas, a amada preferiu manter o casamento que durou 50 anos. Na última carta, não aberta, já que a avó já havia falecido, a amada dizia que, apesar da escolha, ela foi o amor de toda a vida. E ela morreu sem saber disso. Lindo, né? Mas real? Será que é possível um amor assim acontecer, durar, tomar forma na realidade? Não sei, tenho minhas dúvidas. E já que não foi assim que aprendi prefiro crer nisso como fantasia. Daquelas que a gente precisa para continuar vivendo. Respirando. Buscando. E fingindo que nessa "Disney" tudo termina bem.

A realidade? Só Deus sabe, e alguns poucos privilegiados. A não ser que eles mintam, e Deus também. Então só nos resta acreditar no que quisermos. E quem quiser, que conte outra...

10 comentários:

Anônimo disse...

ai, amigo. quanto tempo sem vir aqui e quando venho leio algo tão profundo. eu ainda acredito no amor. não esse dos filmes e romances, mas esse aí que você falou - da cumplicidade, do acordar junto e de decidir sobre as compras do jantar. só que eu acho que uma vida sem um pouco de romance e fantasia também é algo triste. eu acho que dizer 'te amo', afagar e dar presentinhos fora de hora faz toda a diferença num relacionamento. mas também acho que não pode ser só isso. aliás, qualquer opção radical é muito pobre, a meu ver. não basta ter amizade e cumplicidade. não basta ser romantiquinho. entre um e outro, eu fico com os dois. mas tem gente que acha que um elimina o outro. eu sigo acreditando que a vida baseada em opostos binários é um horror e que uma terceira opção é possível. acho que vou morrer fazendo análise. bjs

FOXX disse...

seus pais são parecidos com os meus...

detalhe: esse foi seu texto mais direto não, foi? sem suas costumeiras metáforas!

Pavinatto disse...

Pe-sa-do (mas gostei muito da linha de raciocínio, apesar de ser um desprivilegiado).

Marion disse...

O princípe encantado não existe e amores como os de filme também não. Mas existem sim pessoas especiais que podem nos fazer feliz e a quem podemos amar loucamente e pela vida toda. Sim acredito em amor eterno, mas sei que este amor eterno nunca será um eterno conto de fadas, vai mudar, passar por fases ruins, mas se o casal se empenhar o amor dura e sobrevive a tudo isso. Nunca perca as esperanças no amor, apenas não se iluda pensando que vai aparecer alguém mágico.

beijos e saudades!

Anônimo disse...

Como já diz um velho amigo seu:"AMOR NÃO PAGA BOLETO!!!".Beijos!

Anônimo disse...

Vida de retrato esta que nós levamos... Quero o número da pscicólogo, analísta ou psiquiatra! Mas que mate mesmo o prícipe encantado. Adorei o texto.

J. M. disse...

Ainda não conhecia seu blog. Gostei do post. Primeiro, por falar de algo que tb estou assistindo: Queer as Folk. Segundo, você e sua família se parecem demais com a minha família, que acabou. Mas com características um pouco parecidas com a sua. Nada de muitos contatos, muitos chamegos... declarações de amor.
Gostei da forma como você escreve também. Vou linkar vc. Parabens, e voltarei mais vezes.

André Mans disse...

"All by myself" é meu grito.
Acredito nessa afirmação só se estivermos falando da música... o lance é que principes e princesas são coisas hollywoodianas babacas que colocaram em nossas cabeças. Como pessoas sendo posses - coisas da Igreja Católica, marcação de terra e tal -, relacionaram o amor e tá aí que principes nunca existiram... somos todos sapinhos que se apaixonam por outros sapinhos e dão um trabalho danado para fazer o amor acontecer e rolar... muita gente tem preguiça, medo e o maior mal de todos os tempos: egoísmo e individualidade. Depois todos reclamam que não há amor, há sim, o que não é a disposição... é só prestar atenção no real.

Bjo pra vc!

Dona ervilha disse...

Acabei de chegar aqui. Céus como eu demoro, viu?!
:)

Demian disse...

Cris, mas coooomo um canceriano metódico e prático como eu pode encontrar o terceiro elemento? Diz?

FOXX, é um dos fortes. Sim, sem dúvida!

Pavinatto, tks honey! As always!

Marion, é nóis!

Rapha, sem dúvidas! Seria perfeito demais pra ser verdade! rs

Nyno, be welcome! Mas minha capacidade de enlouquecer está aquém da psico. Tenho certeza! rs

J.M volte sempre!

André/Mans Glup! Vou ali no cantinho e já volto... rs

Caaaaaaaaaaaarmen, que bom que chegou, querida! Nem preciso explicar que aqui não tem cerimônia né? Vou ali fazer um café!