segunda-feira, 21 de julho de 2008

Anjos na América

Esses dias atrás assisti finalmente o "Angels in America", um seriado da HBO que aborda AIDS e homossexualismo nos anos 80. Phodástico. Não há outra palavra para definir algo como aquilo. Tudo bem que é um tanto cansativozinho (são dois DVDs beeeem longos)... precisou de um tanto de coragem e outro tanto de nada pra fazer para me estimular a dar o play. E olha que namoro esses DVDs na locadora há pelo menos uns 7 anos.

Explico: o seriado conta com a presença de gente de catiguria como Al Pacino e Meryl Streep, como parte de um elenco afinadíssimo onde ninguém deixa a desejar. O texto impecável e primoroso... um tanto filosófico, sim... com personagens densos e politizados, que muitas vezes servem mais como marionetes às mãos de um maestro invisível que lhes reduz a megafones. Uma alusão ao "fazei-nos instrumento de vossa paz"? Alguns podem achar chato, sim. Mas cada cena e diálogo parece ser uma composição inteiramente nova e profunda, com reviravoltas inesperadas e inversões dantescas. Coisa que somente bons escritores e roteiristas conseguem oferecer. Para poucos e raros, veja bem.

Quanto ao enredo, devo dizer, eu ainda fico chocado quando penso na associação que a sociedade criou entre homossexualidade e AIDS. A "praga gay" ainda hoje é tida como uma exclusividade, como se o comportamento sexual pudesse diferir fisicamente as pessoas. Falta grave e desinformação que poucos tentam mudar. É o caso, por exemplo, terrível e constrangedor de eu ainda ter, nos dias de hoje, que mentir minha opção sexual no HC para poder doar sangue. O meu é azul, creio.

Eu nunca conheci um aidético, ou pelo menos não um amigo aidético. Essa realidade se tornou muito bem segura e discreta. Distante, retrô, anos 80, penso. Por vezes imagino mesmo que vivem no submundo, envoltos em capuzes longos e negros, que saem durante a noite para bares reservados e com localização discreta. Não é a realidade, não é a minha realidade. E é... é a realidade da vida que a gente desconhece todos os dias...

É talvez essa crueldade e desilusão, mesmo, que sirvam de motes para o seriado. Que permeia a chegada de um mensageiro, o mesmo que anuncia, mais tarde, como Deus abandonou seus Filhos por tempo indeterminado. Não adianta sonhar, viajar ou iludir, a vida é esta e está bem aqui. Na sua frente. Quer queira, quer não queira. E será que não é exatamente essa a sensação que uma pessoa tenha ao deparar com um "positivo" no seu exame de sangue? Ao descobrir-se vítima de uma doença sagaz e cruel que ainda não tem cura. Ao descobrir-se a futura vítima do preconceito e destinada a um exílio diário de cuidados e discrições? Ao sentir-se abandonada por Deus.

Enfim, mas o seriado não se propõe a culpar este ou aquele por isto ou aquilo, e sim a cercar o problema de realidades. O cara que abandona o namorado aidético. O marido que não consegue negar sua essência homossexual. A esquizofrênica esposa que busca na loucura a saída para a sanidade. O advogado corrupto que valoriza a imagem a ponto de confrontar sua realidade. Todas essas são pessoas, personagens, rótulos... todos esses somos nós em nossas escolhas, em nossos caminhos, tentando descobrir uma saída além do óbvio. Mortais tentando descobrir na vida uma razão para a morte. Sou eu, euzinho, tentando encontrar na arte uma saída para a normalidade.

E quem falou que seria fácil?

8 comentários:

Marion disse...

Demian,eu preciso ver este DVD. Eu vi a montagem da peça aqui em SP em 1995. Um grande elenco e uma montagem bem caprichada. Eu lembro que me emocionei muito.

A aids é uma doença cruel. Eu conheci uma pessoa que tinha aids, era conhecido apenas, era cabelereiro do salão que eu frequentava. Logo que a notícia se espalhou muita gente deixou de ir ao salão. Ignorância pura, gente que achava que podia ser contaminada apenas por estar no mesmo lugar que a pessoa com o HIV.

É uma doença ainda submersa em muita falta de informação, mesmo nos dias de hoje, e rodeada de preconceitos.

Beijos

Wans disse...

Meu tio, irmão de minha mãe era gay e morreu por causa do HIV. Acho que um dos maiores medos de minha mãe é que o mesmo aconteça comigo. Puro preconceito. Se ela quizesse ao menos conhecer um pouco mais da minha vida, saberia que somos tão iguais quanto ela e meu pai.

Demian disse...

Concordo Wans, com a única diferença dos michês que frequentam o ape... hehehehehe

Brincadeira, querido!!! Mas sim, as pessoas fazem distinções inconsequentes e imaturas sobre o assunto. Não é atoa que o tal grupo de risco hoje seja composto por dnas de casa que não conhecem as experiências dos maridos. Um absurdo!

Fana Fanii disse...

pois é, ninguém!

Serginho Tavares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Serginho Tavares disse...

eu vi angels in america.
ok, eu tenho o segundo dvd pq meu amigo fez a blza de me dar apenas o segundo já que o primeiro deu erro quando gravou e até agora nao vi.
to esperando ele gravar o primeiro disco.
mas é lindo sim.
muito lindo.

SugarB@by disse...

Eu vi a peça com a marion mas so fizeram a primeira parte... linda e profunda.

Aids , para mim doença cruel q ainda ameaça por falta de cuidado principalmente por causa de no seu inicio terem a estupida e ridicula entre outras palavrinhas e denominações de acharem q iriam resolver um "problema" que incomodava a tal da sociedade e que na verdade ela mesma por debaixo de panos satisfaziam seus desejos. Um dia espero q seus pesquisadores encontrem a eliminação do virus.

Demian disse...

Lindo né? Pois é, meninos...

Sugar, tomara, tomara... que seja breve!!!